Descendo encostas da Serra do Açor até às pontas da cidade do estudante, o rio Ceira atravessa, desde que nasce até à sua foz, um número razoável de povoados. Um dos últimos que as suas margens abraçam é uma pequena povoação que dá pelo nome de Boiça. Povoado pequeno mas afável, de gente simples e ligada à terra, guarda pequenos tesouros que, para muitos, pouco valor têm, mas para os seus habitantes são riquezas que lhes dão identidade. A capela de São Simão, edifício singelo, é um desses tesouros. Festejado a 28 de outubro, é ao Santo Padroeiro que os fiéis pedem proteção e é nessa capela que o fazem. Outro tesouro para as gentes da Boiça é a “fonte centenária”, que em tempos tinha uma importância vital para a população. Da fonte vinha a água para a vida, na fonte se contavam as coisas da vida. Hoje o ponto de encontro dos habitantes mudou, e é no Centro Cultural e Recreativo que, a par da conversa e dos jogos tradicionais, se aconchega o estômago com petiscos inigualáveis confecionados pelos próprios convivas e que atraem muitas pessoas de muitas localidades.
Na sua passagem pela Boiça, o rio Ceira ainda dá vida ao moinho de água que atualmente se mantém a funcionar em plenitude, e onde as mulheres da povoação ainda vão muitas vezes à farinha acabada de moer para fazerem a tradicional broa de milho, que acompanha a deliciosa carne de cabra cozinhada em vinho no forno de lenha.
Mesmo em frente ao moinho, o rio oferece com a sua represa um local único que já serviu de palco a diversas atividades, desde jogos da água a encontros culturais. Dado a sua singularidade, os amantes da fauna fluvial poderão observar no final das tardes de Março/Abril um espetáculo único em que as bogas dão graciosos saltos fora de água, fazendo-nos acreditar que a Boiça é realmente uma localidade singular, mas ao mesmo tempo com os seus encantos.